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Shein, do crescimento à má notícia em sustentabilidade

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O Fast-fashion (moda rápida) significa um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados – literalmente – rápido. O modelo de negócios depende da eficiência em fornecimento e produção em termos de custo e tempo de comercialização dos produtos ao mercado, que são a essência par
O Fast-fashion (moda rápida) significa um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados – literalmente – rápido. O modelo de negócios depende da eficiência em fornecimento e produção em termos de custo e tempo de comercialização dos produtos ao mercado, que são a essência para orientar e atender a demanda de consumo por novos estilos a baixo custo. Desta forma, consegue colocar rapidamente as tendências mais hype das passarelas – e das ruas – nas araras para atender um consumidor que quer estar sempre na moda e não tem tempo. Na última década, no entanto, vimos aflorar discussões sobre os problemas deste modelo de negócios, muito em decorrência das questões ambientais e do consumismo. Alguns dos principais players desse mercado foram envolvidos em polêmicas de trabalho análogo à escravidão e pouca ou nenhuma política ambiental e viram um decrescimento significativo. Em 2019, segundo dados do Business of Fashion, o crescimento do grupo Inditex, foi o menor em cinco anos. A gigante sueca H&M também vem apresentando um decrescimento constante desde 2019, segundo dados do Euromonitor. Do início da pandemia até hoje, todo o setor de fast-fashion sofreu um decrescimento de 7% (de U$ 44 para 41 bilhões). Enquanto isso acontecia, a Shein lentamente se tornava a maior varejista online e uma das maiores marcas de fast-fashion do mundo. De 2018 para 2021, a marca cresceu exponencialmente sua receita em 700%, passando de U$ 2 para U$ 15,7 bilhões, comparados aos U$ 21,5 e U$ 21,2 bilhões da Zara e H&M, respectivamente. Ainda segundo o BoF, a Shein está em conversas para receber um investimento que deve elevar seu valor em U$100 bilhões, mais que o grupo Inditex/Zara (U$67,5) e H&M (U$23,2) combinados. Um dos grandes motivos do crescente sucesso da Shein é que a varejista chinesa é uma das poucas alternativas para diversos grupos de pessoas, principalmente pessoas gordas, para encontrarem peças estilosas e com as tendências do momento a um preço acessível. Apesar disso é impossível não considerar os problemas ambientas e sociais causados pelo modelo de fast-fashion e, especificamente da Shein. A marca disponibiliza novos modelos diariamente e demora menos de uma semana para idealizar, criar e colocar à venda novos produtos, em um modelo que tem sido chamado de ultrafast-fashion, em contraposição às fast-fashion comuns, que gastam cerca de 15 dias a um mês para todo este processo. Para se ter uma ideia, segundo o Edited, a Shein teria colocado à venda mais de 300 mil novos modelos, do início do ano até hoje, em comparação com 6.849 da Zara e 4.414, do H&M Group. Em seu modelo de ultra-fast fashion, a Shein atualiza seu site todos os dias com mais de mil novos modelos.  Essa agilidade em oferecer tantos produtos em tamanha velocidade só é possível graças ao seu modelo baseado em inteligência artificial, que mostra o que os consumidores estão buscando e demandando para criar cada vez mais peças que estão na moda. Segundo o The Guardian, a Shein funciona em um modelo “testa-e-repete” em que apenas 6% de seus produtos ficam no estoque após 90 dias. Todos esses produtos atendem à uma demanda de 250 países para onde a marca exporta atualmente, incluindo o Brasil, um dos mercados mais estratégicos para a marca. Diante desses números exorbitantes, é impossível não nos perguntar para onde vão parar tantas peças? E ainda, quem paga o custo dos valores baixíssimos e produção ultra-rápida da Shein? Mas toda esse velocidade vem, muitas vezes, em detrimento da qualidade e durabilidade dessas peças. A vida útil das peças de fast fashion tendem a ser muito menores, decorrentes de materiais de pior qualidade e, muitas vezes, tecidos sintéticos, que liberam microplásticos durante a lavagem, um problema que cada dia mais nos assombra. Além da durabilidade física, muitas dessas peças, criadas por inteligências artificiais e baseadas em algoritmo, são o “próprio suco da tendência”, por assim dizer. Isto é, se baseiam única e exclusivamente em vender para um cliente que quer aquela tendência no momento em que ele a vê. Salvo dizer que grande parte dessas, ficam datadas e acabam mofando em armários, ou pior, em lixões ao redor do mundo, como no nosso vizinho, o deserto do Atacama, que se tornou o maior lixão têxtil do planeta. É mais rápido e fácil descartar um produto que lavá-lo, secá-lo e passá-lo para novos usos. Enquanto é difícil afirmar isso sobre a Shein – devido à mínima transparência – vale também dizer que em transações de troca ou devoluções, por exemplo, marcas com produções e entregas globais tendem a descartar peças devolvidas ou trocadas. Isso acontece, porque o custo da mão-de-obra para inspecionar uma peça e colocá-la novamente no estoque é, muitas vezes, maior do que o de simplesmente criar uma nova. Esse movimento acaba também contribuindo para os lixões têxteis ao redor do mundo. O que nos leva a outro grande problema, a transparência. Vale dizer que esse não é um problema exclusivo das marcas do fast-fashion, mas sim da indústria da moda no geral. No caso específico da Shein, a transparência é quase inexistente. Pouco se sabe sobre a cadeia produtiva da marca além de especulações e investigações de jornais e agências de notícia como a Reuters. O que se sabe é que, apesar de ser uma marca com sede na China, sua produção não vem de lá, mas sim é espalhada por diversas fábricas ao redor do mundo. Essa é uma estratégia bastante usada por marcas de moda para reduzir custos ao terceirizar a produção para países com legislações trabalhistas flexíveis e mão de obra barata. De uma forma geral, o fast-fashion se aproveita dessas brechas em diversos países, mas mesmo as principais rivais da marca, como a H&M, Asos, Boohoo e Zara, hoje em dia publicam relatórios com diversos dados de transparência. No caso da H&M e da Inditex, esses dados incluem até endereços e nomes das fábricas em que produzem. É importante lembrar que se o consumidor não está pagando o preço real de uma roupa, é porque alguém, em outro lugar – possivelmente do outro lado do mundo – está. Também é importante reforçar a necessidade de legislações que obriguem marcas a serem mais transparentes e fiscalização constante das condições de suas fábricas e de seus funcionários. Por todas essas questões, o crescimento vertiginoso – e até assustador – da Shein não é uma boa notícia. Uma das principais questões para a sustentabilidade na moda não é apenas o uso de novas matérias primas ou a redução de emissões, mas também a redução da produção e do consumo exacerbado. O modelo de negócios da Shein vai exatamente na contramão de todas essas discussões sobre sustentabilidade e moda que pareciam ter avançado tanto nos últimos anos. No entanto, enquanto acreditarmos em uma ideia de que precisamos estar à par de todas as tendências do momento para nos sentirmos bem, incluídos ou mais aspiracionais, é fácil de compreender como o fast-fashion pode nadar de braçada nos nossos desejos de moda, oferecendo essa sensação e estilo com preços baixíssimos, às custas de trabalhadores e de problemas climáticos que estão muito longe dos nossos olhos.   (Foto: FFW / Getty Images)

Shein, do crescimento à má notícia em sustentabilidade

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